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As lesões cutâneas constituem um sério problema de saúde pública em todo mundo, atingindo quase seis milhões de pessoas. O problema é agravado pela prevalência, especialmente no Brasil, das doenças circulatórias e diabetes mellitus, males aos quais as feridas agudas e crônicas na pele estão comumente associadas.

Somente o diabetes mellitus tipo 2, forma mais comum da doença, atinge 16,8 milhões de brasileiros, em um  universo de mais de 450 milhões de adultos diabéticos no mundo. Segundo cálculo da Federação Internacional de Diabetes (IDF), no 9º Atlas de Diabetes, divulgado no fim de 2019, esta doença poderá levar cerca de um milhão de brasileiros a desenvolver úlceras nos pés, que poderão, por sua vez, resultar em  200 mil casos de amputações, dos quais cerca de 40 mil levarão o indivíduo a óbito.

Coordenadora de Conteúdo do Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro do Núcleo Executivo da RedePICS Brasil, Silvana Cappelleti Nagai, mestre em enfermagem, calcula existir cerca de 3% da população brasileira com lesões crônicas de pele. A estimativa é maior, passando para 10%, quando se trata de pessoas com diabetes. “Estas lesões acometem com frequência idosos hospitalizados ou não, pessoas com doenças imunológicas ou crônicas e podem levar à redução da qualidade de vida e funcionalidade, à amputação ou até mesmo à morte”, detalha.

Isso porque algumas feridas cutâneas apresentam dificuldade de cicatrização e não seguem os processos fisiológicos normais de cura. Dinâmica e complexa, a cicatrização é comumente descrita em 3 fases: inflamatória, onde o corpo tenta estancar o sangramento e combater possíveis agentes de contaminação; re-epitelização (formação do tecido) e recuperação da irrigação sanguínea normal; e de maturação, que pode durar até um ano, correspondendo ao remodelamento do tecido, dando resistência para a área lesada. 

Nagai, que é especialista em plantas medicinais e fitoterápicos, método terapêutico utilizado em sistemas de saúde do mundo inteiro, explica que as feridas possuem etiologias diversas e constituem uma condição complexa multifatorial. Em geral, ensina, são classificadas como crônicas e agudas.

“As agudas são aquelas que a cicatrização normalmente ocorre dentro do período esperado de até três meses e sem complicações. Já as feridas crônicas podem ser definidas como aquelas que não cicatrizam espontaneamente em três meses, apesar dos cuidados médicos e de enfermagem, necessitando por vezes de procedimentos cirúrgicos para fechamento”, detalha a pesquisadora.

Ela acrescenta que podem ser consideradas “feridas complexas” quando associadas a fatores patológicos sistêmicos, que dificultam a cicatrização, como as complicações das diabetes mellitus ou de uma cirurgia, hipertensão arterial ou queimaduras. 

Aliadas da cicatrização de feridas

Baseado em conhecimentos tradicionais e populares estudados pela ciência, o mundo inteiro tem encontrado nas plantas medicinais e fitoterápicos tratamentos eficazes para as feridas, uma vez que muitas vezes esses tratamentos possuem menos efeitos adversos, menor custo e até a redução no tempo para cicatrização completa (1).

“As contribuições farmacológicas das plantas medicinais na cicatrização de feridas está arraigada no conhecimento tradicional, principalmente nas culturas de populações tradicionais, como as indígenas, que se valem do que a natureza dispõe”, realça o professor titular da Universidade Federal do Amapá, José Carlos Tavares. 

A coordenadora do Programa Farmácias Vivas do Ceará e do Horto de Plantas Medicinais (Matos), professora de Farmacognosia e Fitoterapia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mary Anne Medeiros Bandeira, alerta que as plantas medicinais são, muitas vezes, a única forma de tratamento de determinadas patologias em algumas comunidades. “E a exemplo das comunidades tradicionais, os países em desenvolvimento e os mais desenvolvidos vêm consumindo cada vez mais produtos à base de plantas medicinais. Estima-se que, aproximadamente, 80% da população do planeta já tenha feito uso de algum fitoterápico para aliviar sintomas de alguma doença”, informa.

Atualmente, a Alemanha lidera o comércio europeu de plantas medicinais, consumindo cerca de 45 mil toneladas de plantas medicinais por ano, seguida pela França e Itália.

“Nas farmácias alemãs, cerca de 75% dos clientes optam por adquirir esses medicamentos quando praticam a automedicação ou adquirem medicamentos isentos de prescrição médica”, informa Bettina Ruppelt, farmacêutica industrial, professora de Fitoterapia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro do Comitê de Produtos Naturais do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN).

Segundo a pesquisadora, cada país tem pelo menos uma planta medicinal que desempenha um papel importante na cultura e na economia. “É o caso da lavanda, na França, da equinácea, nos Estados Unidos, da garra-do-diabo, na África do Sul, do eucalipto, na Austrália, do gingko biloba, no Japão, do chá-verde, na China, e do guaco, no Brasil”, lista. O professor José Tavares sublinha que o uso das plantas medicinais no mundo recebe importantes contribuições das medicinas tradicionais chinesa e indiana. “Vamos encontrar um enorme aporte da aplicação clínica das plantas medicinais na Medicina Tradicional Chinesa”, exemplifica. 

No Brasil, as plantas medicinais e os fitoterápicos ganham maior expressão com a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS, ambas de 2006, e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, lançado em 2008. “Entre os anos 2012 e 2015, os vários editais de fomento também fortalecem a cadeia produtiva das plantas medicinais e fitoterápicos e, consequentemente, o crescimento da prática no SUS”, complementa Bettina. 

Expressão das plantas medicinais na Atenção Primária

Mary Anne Bandeira lembra que, no Brasil, o método terapêutico é aplicado, principalmente, na Atenção Primária à Saúde, como terapia eficiente e de baixo custo, equivalente aos medicamentos alopáticos tradicionais. Valinhos, município de São Paulo, é um importante exemplo desse contexto. A cidade, que já era a maior produtora de goiaba in natura no país, passou a usar as folhas da fruta, cujas ações terapêuticas têm sido comprovadas, para tratar feridas de pacientes atendidos na Rede Básica de Saúde, de forma complementar ao tratamento convencional. As folhagens de goiaba são misturadas às de pitanga no preparo de um chá, que tem ação antimicrobiana e cicatrizante. 

O fitoterápico faz parte do Serviço Especializado em Lesões Vasculares e Neuropáticas (Selven), que funciona no Centro de Especialidades de Valinhos. Segundo a idealizadora do uso de plantas medicinais no Selven, farmacêutica Nilsa Sumie Yamashita Wadt, doutora em plantas medicinais pela Universidade de São Paulo (USP), a mistura tem acelerado em 40% a cicatrização de feridas nos pacientes atendidos pela unidade de saúde, além de gerar economia ao sistema de saúde, pela redução do uso de medicamentos e curativos.  As plantas também estão listadas no Consenso de Tratamento e Prevenção do Pé Diabético.

Nagai também lembra que o uso de fitoterápicos para o tratamento de feridas obedece às recomendações da Política e do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

“Sua indicação somente pode ser realizada sob prescrição de profissional de saúde habilitado em Fitoterapia, mediante a planta medicinal tenha reconhecimento e identificação botânica correta. Os fitoterápicos obedecem a formulações de padrões de qualidade e segurança e cuidados em sua preparação”, sublinha, uma vez que um dos objetivos das normativas é garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional.

A especialista realça, nesse contexto, o Programa Farmácia Viva, instituído no âmbito do SUS em 2010, como forma de fomento das plantas medicinais e fitoterápicos. O programa, implantado em vários municípios brasileiros, tem entre seus objetivos produzir fitoterápicos, com garantia de segurança e eficácia, a partir de plantas medicinais validadas, visando atender a demanda da atenção primária à saúde nas patologias passíveis de serem tratadas com plantas medicinais e fitoterápicos. 

Idealizado pelo professor e farmacêutico Francisco José de Abreu Matos, no Ceará, nos anos 1980, o projeto compreende as etapas de cultivo, coleta, processamento, armazenamento de plantas medicinais, manipulação e dispensação de preparações magistrais e oficinais de plantas medicinais e fitoterápicos. A iniciativa reflete a união entre o conhecimento tradicional, a atenção primária à saúde e a academia.

“Na época, esse notável farmacêutico e pesquisador, sabendo que estavam de fora do sistema de saúde mais de 20 milhões de nordestinos, que tinham como única opção de tratamento as plantas medicinais disponíveis no meio onde viviam, passa a investigar as plantas usadas na medicina popular do Nordeste e questiona como era possível selecioná-las conforme as atividades curativas atribuídas pelo povo, que plantas poderiam ser usadas sem risco para a saúde e a vida e como fazer para que a planta selecionada, segundo os critérios de eficácia e segurança, poderiam chegar à população  e ser usada corretamente, sem estimular o autodiagnóstico e a automedicação”, relembra Bandeira. 

Na avaliação da professora da UFC, a popularização das plantas medicinais, por meio deste programa, implica a parceria com organizações governamentais e não governamentais, associações e as comunidades locais. No Ceará, o programa tem o aporte da Política de Implantação da Fitoterapia no Serviço Público do Estado, que orienta o cultivo de plantas medicinais, o pré-processamento, a preparação de remédios caseiros com plantas medicinais e a preparação de fitoterápicos. As atividades são estabelecidas pelos níveis de complexidade, respeitando os três modelos de Farmácias Vivas

O modelo 1 se aplica à instalação de hortas de plantas medicinais em unidades de Farmácias Vivas Comunitárias e/ou unidades do SUS, mantidas sob a supervisão de profissionais do serviço público estadual ou municipal de fitoterapia. A matéria-prima vegetal, processada de acordo com as Boas Práticas de Cultivo (BPC), deve ser oriunda de hortas e/ou hortos oficiais ou credenciados. Neste caso, os agentes comunitários de saúde, agentes rurais ou correlatos, devidamente capacitados e integrados a uma unidade de Farmácia Viva e, no caso do estado do Ceará, é cadastrada pelo Núcleo de Fitoterápicos do estado (Nufito), poderão participar do processo de orientação quanto ao uso correto de plantas medicinais.

O modelo 2 de Farmácia Viva destina-se à produção e dispensação de plantas medicinais secas (droga vegetal), que constam do elenco do Nufito, destinadas ao provimento das unidades de saúde do SUS. Já o modelo 3 destina-se à preparação de fitoterápicos para o provimento das unidades do SUS. A droga vegetal para a preparação desses fitoterápicos deve ser igualmente oriunda de hortas e/ou hortos oficiais ou credenciados, desde que processada de acordo com as Boas Práticas de Processamento (BPP), e os fitoterápicos são preparados em áreas específicas para as operações farmacêuticas, de acordo com as Boas Práticas de Preparação de Fitoterápicos (BPPF). 

A Farmácia Viva de Maracanaú (CE), por exemplo, já conta com 18 espécies de plantas medicinais. Já a Farmácia Viva da Prefeitura de Fortaleza (CE), em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor), conta com laboratórios farmacêuticos para a formulação de tinturas, pomadas, cápsulas e xaropes. 

“Iniciativas de governos de estados e municípios, muitas vezes em parceria com instituições de ensino superior, também contribuíram para a implantação das plantas medicinais e fitoterápicos nos serviços de saúde pública. São alguns exemplos: o Programa de Plantas Medicinais da Itaipu Binacional no Paraná; a Farmácia Verde da Prefeitura de Curitiba; o Programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Rio de Janeiro; e a RedesFito”, finaliza Bettina. 

Ações terapêuticas baseadas em evidências 

As plantas medicinais indicadas para a cicatrização de feridas, reconhecidas pela comunidade científica, são inúmeras. Somente da farmacopeia brasileira, aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa) do Ministério da Saúde, integrando o Memento de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, fazem parte a Anacardium occidentale L.(cajueiro), a Caesalpinia ferrea (pau-ferro), a Casearia sylvestris (guaçatonga), a Schinus terebinthifolia (aroeira), a Stryphnodendrom adstrigens (barbatimão), a Calendula officinalis (calêndula), a Polygonum punctatum (erva-de-bicho), a Aloe vera (babosa), a Helianthus annuus (girassol), entre outras. Essas plantas, referidas acima com seus nomes científicos e populares, respectivamente, são utilizadas de diferentes formas farmacêuticas, tais como: preparações extemporâneas (infusão e decocção, chamados popularmente de chás), tinturas, gel, creme, pomada e óleo.

Bettina, que coordenou o Mapa de Evidências Clínicas das Plantas Medicinais, um trabalho de sistematização de estudos científicos sobre a aplicação clínica das plantas medicinais, realizado pelo CABSIN e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (Bireme/Opas/OMS), com apoio da Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde do Ministério da Saúde, destaca duas plantas de amplo uso popular na cicatrização de feridas, bastante estudadas mundo afora. São elas: a calêndula e a babosa, cujos extratos são comprovadamente eficazes na reepitelização, ou seja, no reparo do tecido da pele.

Ela conta que, nas últimas décadas, as pesquisas com as plantas medicinais brasileiras avançaram consideravelmente.

“É o caso do barbatimão (Stryphnodendron adstringens), tradicionalmente utilizado no Brasil como cicatrizante e cujo estudo clínico avaliou a eficácia da pomada contendo 3% de fitocomplexo fenólico de barbatimão, na cicatrização de úlceras de decúbito”, destaca. Segundo a professora de Fitoterapia, durante a realização do estudo clínico, as lesões tratadas com o fitoterápico cicatrizaram completamente. 

Outra planta brasileira sob investigação científica é o crajiru (Arrabidaea chica). De acordo com Bettina, um medicamento a base desta planta está sendo desenvolvido, revelando-se com alto teor cicatrizante para ulcerações diabéticas (2). “É importante frisar que as monografias das duas plantas fazem parte dos documentos oficiais do Brasil, como o Formulário e o Memento de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, que orientam a produção de medicamentos magistrais e a sua prescrição”, acrescenta. 

Silvana Nagai destaca, também, a babosa, face a sua indicação terapêutica de cicatrização, anti-inflamatória, antimicrobiana e analgésica, e a calêndula, utilizada em aplicações tópicas para cicatrização de feridas, por conta dos efeitos anti-inflamatório e cicatrizante e das propriedades antimicrobianas.

Outras plantas importantes para a cicatrização de feridas, elencadas pela especialista são: a guaçatonga, erva-de-bugre ou erva-de-lagarto, que tem ações anti-inflamatória, antibacteriana e cicatrizante tópico; a andiroba, como cicatrizante tópico, indicada para processos inflamatórios associados à solução de continuidade, com presença ou não de quadro séptico; a copaíba, também indicada como cicatrizante tópico de úlceras cutâneas infectadas, principalmente nos casos de infecção por microrganismos gram-positivos; a hamamelis, como anti-inflamatório e cicatrizante tópico; a pau d’arco, ipê-roxo, taheebo ou pau d’arco roxo, por suas ações cicatrizante, anti-inflamatória e antimicrobiana; a aroeira-do-sertão, com comprovadas ações anti-inflamatória, cicatrizante, antimicrobiana e anti-histamínica; a aroeira-da-praia, indicada como cicatrizante, anti-inflamatório e antimicrobiano; e a confrei, como cicatrizante tópico para o tratamento de feridas, que age nos processos de regeneração de tecidos feridos, estimulando o crescimento de tecido saudável e auxiliando na eliminação  de tecido necrosado.

Nagai explica que as plantas medicinais possuem princípios ativos diversos, que auxiliam no processo de cicatrização de feridas, atuando por diferentes mecanismos, tais como: modulação do processo de cicatrização das feridas; diminuição da infecção bacteriana; melhora da deposição de colágeno; aumento de fibroblastos; melhora da dor local, entre outros. “Esses diferentes mecanismos podem ser desencadeados pelos óleos essenciais (terpenos), óleos fixos (ácidos graxos insaturados), flavonóides, taninos, alcalóides e muitos outros constituintes químicos”, ensina.

Mapeamento dos achados científicos

O Mapa de Evidências Clínicas das Plantas Medicinais revelou 15 espécies de plantas medicinais com efetividade clínica para cicatrização de feridas cutâneas. As plantas com mais evidências foram a calêndula (Calendula officinalis), o abacaxi (Ananas comosus), a babosa (Aloe vera) e o picão-roxo (Ageratina pichinchensis). Evidências para o tratamento de feridas crônicas foram relatadas também para a cúrcuma (Curcuma longa)(4). 

Um estudo de revisão sistemática analisado pelo mapeamento, que avaliou a composição química da calêndula, concluiu que esta planta possui uma série de propriedades que são condizentes com a sua indicação na cicatrização de feridas. Já o gel de babosa acelerou o processo de cicatrização e demonstrou uma cicatrização completa em lesões isquêmicas de pacientes hipertensos e diabéticos, no período de dez semanas de tratamento, conforme investigou outra pesquisa (3). Bettina cita ainda outro estudo sobre uma formulação farmacêutica, contendo extrato de picão-roxo, que apresentou grande eficácia terapêutica sobre úlceras venosas crônicas de pernas (4).

“A ciência está comprovando, através das pesquisas básicas na área de fitoquímica, farmacologia e toxicologia, dos ensaios clínicos e dos mapas de evidência de efetividade clínica, a eficácia e a segurança das plantas medicinais. O futuro é promissor, aponta as plantas medicinais como opções para a cicatrização de feridas, principalmente as feridas crônicas de difícil cicatrização”, reforça a coordenadora do Mapa de Evidências Clínicas das Plantas Medicinais.

Na mesma direção, pesquisa sobre os efeitos terapêuticos das plantas medicinais em feridas cutâneas, desenvolvida por pesquisadores das universidades Estadual do Maringá e Estadual do Oeste do Paraná, publicada em 2018 na Hindawi (5), uma das maiores editoras de periódicos de acesso aberto do mundo, identifica 12 plantas medicinais com alto potencial terapêutico para o tratamento de lesões cutâneas. Entre elas, o estudo destaca a planta nativa do Brasil Aloe vera (babosa), e suas propriedades farmacológicas, como cicatrizante, proteção da pele e efeitos anti-inflamatórios (6, 7). 

Salvia miltiorrhiza, planta de origem asiática e amplamente utilizada na medicina tradicional chinesa para tratar doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, hiperlipidemia, tumores e problemas hepáticos, como a cirrose, também pode influenciar a recuperação do tecido danificado. Os pesquisadores, com base em uma extensa revisão sistemática, identificam mais de 70 compostos na sálvia, e muitas dessas bioatividades foram atribuídas a dois principais grupos de compostos: os ácidos salvianólicos e os tanshinones, com ações anti-inflamatórias e antioxidantes (5, 6).

Mimosa tenuiflora, uma árvore leguminosa encontrada na região semiárida do norte do Brasil, é também identificada pelo levantamento científico. A planta, segundo os pesquisadores brasileiros, é amplamente utilizada por tribos indígenas para fins psicoativos e medicinais. A família das Mimosas ajuda na cura das úlceras cutâneas graves, e isso se deve ao seu alto teor de substâncias presentes em sua casca, que induzem a proliferação de células humanas em cultura e têm efeitos imunomoduladores. 

calêndula, cujos compostos químicos presentes nas flores desta planta equilibram a resposta inflamatória e podem ser benéficos para o tratamento de feridas crônicas associadas à inflamação crônica. “Os estudos em animais fornecem evidências moderadas para uma melhor recuperação da fase de inflamação e aumento da produção de tecido de granulação em grupos de tratamento com extrato de calêndula(9). Em pacientes com úlceras venosas um estudo controlado com 34 pacientes concluiu que o uso da planta acelerou o processo de cicatrização”, afirmam os pesquisadores, em alusão a dois estudos sobre a aplicação clínica desta planta (10).

Referências

  1. Andrade, Lidiane Lima, et al. “Tratamento convencional e fitoterápico de lesões crônicas em um ambulatório: comparação de custos.” Revista Enfermagem Atual In Derme 88.26 (2019).
  2. Lordani TVA, De Lara CE, Ferreira FBP, De Souza Terron Monich M, Da Silva CM, Lordani CRF, et al. Therapeutic effects of medicinal plants on cutaneous wound healing in humans: a systematic review. Mediators Inflamm. 2018;2018:7354250.
  3. Freitas AL, Santos CA, Souza CAS, Nunes MAP, Antoniolli R, da Silva WB, et al. The use of medicinal plants in venous ulcers: a systematic review with meta-analysis. Int Wound J. 2017;14(6):1019–24.
  4. Marmitt DJ, Bitencourt S, Do Couto E Silva A, Rempel C, Goettert MI. The healing properties of medicinal plants used in the Brazilian public health system: A systematic review. J Wound Care. 2018;27(6):S4–13.
  5. Lordani, Tarcisio Vitor Augusto, et al. “Therapeutic effects of medicinal plants on cutaneous wound healing in humans: a systematic review.” Mediators of inflammation 2018 (2018).
  6. Khanam, Sofia. “A systematic review on wound healing and its promising medicinal plants.” IP International Journal of Comprehensive and Advanced Pharmacology 5.4 (2021): 170-176.
  7. Gok Metin, Zehra, Aylin Helvaci, and Merve Gulbahar Eren. “Effects of Aloe vera in adults with mucocutaneous problems: A systematic review and meta‐analysis.” Journal of Advanced Nursing (2020).
  8. Freitas, Anderson L., et al. “The use of medicinal plants in venous ulcers: a systematic review with meta‐analysis.” International wound journal 14.6 (2017): 1019-1024.
  9. Givol, Or, et al. “A systematic review of Calendula officinalis extract for wound healing.” Wound Repair and Regeneration 27.5 (2019): 548-561.
  10. Duran, V., et al. “Results of the clinical examination of an ointment with marigold (Calendula officinalis) extract in the treatment of venous leg ulcers.” International journal of tissue reactions 27.3 (2005): 101-106.

Fonte: CABSIN - Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa
Redação e Edição: Kátia Machado
Revisão Científica: Ricardo Ghelman, Caio Portela e Gelza Matos Nunes
Foto: Internet - Divulgação